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02 julho 2009

A Paisagem para além da janela do trem - parte primeira.

Bem, este texto se trata basicamente de uma história fantástica que eu criei levado em grande parte pela impulsividade frenética; isto é, foi um texto feito quase que às três pancadas, como se diz, à base do "Quanto mais imaginação e imprevisibilidade, melhor". Portanto, se porventura o leitor achar alguma passagem enfadonha, incongruente ou simplesmente aborrecível - o que sem dúvida vai acontecer -, então perdoe a mente conturbada do escritor que a redigiu. :)

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estação meires

A Estação Ferroviária Meires fica localizada à margem da cidade de Fortaleza; digo, muito distante mesmo da metrópole, numa região rural e silenciosa aonde quase ninguém consegue chegar de automóvel, a vários e vários quilômetros dos ônibus barulhentos e dos edifícios cheios de gente que abarrotam o centro da Cidade da Luz. Se alguém se der ao trabalho de consultar um mapa geográfico, por exemplo, de qualidade cartográfica ímpar, verá em detalhes que a Estação Meires fica situada a aproximadamente 50 quilômetros da periferia de Fortaleza, na direção Leste da Rosa dos Ventos, rumo às Colinas Distantes, em uma localidade onde os trens são tidos como o principal meio de transporte.

Acho que isso é o máximo que eu posso dizer.

Depois de sair da cidade a bordo de ônibus intermunicipais muito surrados (com direito a motoristas ouvindo "Let the Sunshine"), aqui cheguei eu, na Estação Ferroviária Meires, praticamente fugido do centro urbano e dos aborrecimentos que assaltam nossos dias. Estou sentado em um dos muitos bancos de madeira que pontilham a plataforma de espera da Estação Ferroviária Meires, uma grande plataforma de concreto envelhecido.

Devo dizer que não há mais ninguém além de mim por aqui, ninguém em meu campo de visão, nenhum ruído humano. Apenas eu, mesmo, como indivíduo.

Ao meu lado, sobre o banco de madeira, está a minha mochila de viagem com os meus poucos pertences dentro. À minha frente, em um nível um pouco mais rebaixado, estão os trilhos do trem. Para além deles e para aquém do banco onde estou sentado não há vivalma num raio de muitos quilômetros, exceto, é claro, o sujeito que me vendeu as passagens: um chefe-de-estação idoso que tem o olhar perdido e vago e que gagueja a cada duas palavras ditas. Lá está ele, a dez metros atrás de mim, assistindo a um programa de televisão dentro da sua minúscula portaria onde se lê sobre a entrada: Compra de Passagens. Ele usa sobre a cabeça uma espécie de quepe militar e fuma vez por outra um charuto barato. O som da sua televisão chega até os meus ouvidos apenas como um leve murmúrio chiado e artificial, ao longe, intercalado por estática; o vento se encarrega de levar estas ondas sonoras desagradáveis para bem longe daqui.

Da minha parte, enquanto o trem não dá as caras por aqui, ponho-me a esquecer o ruído distante da televisão do senhor e a refletir sobre a beleza misteriosa deste lugar. Olho ao redor: a Estação Meires é um lugar interessante e bonito porque é um lugar vazio, amplo e plano – e silencioso, conseqüentemente. Acima da minha cabeça, a muitos metros, estende-se o clássico telhado de ferro na forma de parábola, em cujos trançados de vigas muitos passarinhos já fizeram seus ninhos e voam de lá para cá, cantarolando. A imensidão espacial que há entre esse telhado de ferro e o piso de concreto da estação deixa qualquer um enlevado. Para os lados do banco onde estou sentado, consigo apenas divisar alguns contêineres de carga que jazem silenciosamente sobre o piso da estação, uns atrás dos outros e uns sobre os outros, à espera de algum guindaste que os coloque sobre os vagões de algum trem específico. Uma golfada de vento forte quase regular atravessa a Estação e faz voar uma miríade de papéis abandonados.

O silêncio é acolhedor. O ruído do redemoinho das folhas de papel é hipnótico. Não posso deixar de perceber estas maravilhas.

Ainda de onde eu estou, posso divisar os trilhos de trem que surgem lá fora, sobre a terra batida das Colinas, e que entram na Estação como o curso de um rio canalizado e manso. Lá fora, para além da Estação, claro, o sol: brilhando e fazendo do dia um ótimo espaço para divagar. O céu é limpo e azul, e as nuvens, esparsas.

Ótimo horário para escrever.

Na realidade, eu não poderia ter escolhido um dia melhor para iniciar a minha viagem às Montanhas.

Espero que Fernanda não se importe com a minha maneira particular de procurar inspiração e fugir das pessoas.

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[continua...] <-- Parece coisa de folhetim ou de filme de segunda categoria.

2 comentários:

  1. Não sabia se eu comentava ao final dos posts, ou aqui mesmo. Acabei me decidindo por aqui, mas, de todo modo, li ambos. ^^
    E, sim, gostei. :)
    O seu texto também me passou uma sensação de um lugar pacífico e solitário. Gostei da tranqüilidade que me faz lembrar o clássico papel de parede do Windows XP, o campo florido, conhece? Antigamente eu tinha o hábito de comentar com uma amiga minha, quando o dia estava ensolarado e o céu, num azul profundamente claro, que era o papel de parede do XP, um dia que parecia que nunca passaria, que ficaria daquela forma, eternamente banhado pelo sol. ^^
    E gosto muito desta paisagem, mesmo, apesar de ser um pouco tristonha, é bonita. ^^

    Hum-hummm. A Estação Meires existe aí em Fortaleza mesmo? :3
    Ah, e acho que não preciso dizer que ficou impecável, ne? ^^

    Já ia me esquecendo, obrigada pelo comentário lá no Le Chats! ^^
    Beijo! n.n

    Paula Guerra

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  2. Ceará - Fortaleza
    Av. Rogaciano Leite, 200, Bloco 2, apto 504. Bairro Guararapes.
    CEP: 60810-786

    :)

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