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08 novembro 2009

Cidade de Ladrões, de David Benioff

"Teria sido um gesto sem sentido, (...) mas gestos sem sentido pareciam ser tudo o que nos tinha restado. (p. 248)"

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Pelo início da tarde de hoje, depois de assistir à última produção cinematográfica de O Grande Gatsby, finalizei a leitura do romance norte-americano Cidade de Ladrões (City of Thieves, 2008), escrito pelo jovem talentoso David Benioff.

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Sinopse (minha): 2ª Guerra Mundial. Rússia sendo atacada por nazistas. Lev Beniov, protagonista deste romance que tem como pano de fundo eventos marcantes da História contemporânea, é um jovem tímido e solitário. Preso pelos russos por não respeitar o toque de recolher, acaba por dividir a cela com Kolya, um rapaz carismático, acusado de abandonar a frente de batalha. Para que não sejam executados, os dois recebem de um coronel uma missão aparentemente impossível: encontrar, na cidade gelada e sem alimentos, uma dúzia de ovos para que a filha do oficial tenha um bolo de casamento.

Em uma cidade onde as pessoas viram canibais e devoram pombos da rua para não passar fome, a idéia de encontrar 12 ovos parece impossível. E é para realizar esta missão que Lev e Kolya cruzam a Rússia em uma aventura inesquecível, marcante, onde a tal missão do coronel é apenas o fio condutor.

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Já fazia algum tempo que eu não me empolgava tanto com uma leitura. A última vez que eu me empolguei de verdade - tirando os romances de Erico Verissimo, nos últimos meses -foi no início do ano, talvez, lendo Kafka à Beira-mar, livro cujas quase 600 páginas foram devoradas em um fôlego erótico. Os livros que eu vim lendo ultimamente (repito: com a exceção de Erico) foram apenas passatempos frugais e despercebíveis.

Novembro não parece ser um mês que prometerá muitas leituras para mim (ando meio ocupado), mas, de qualquer forma, prometendo ou não, na última sexta-feira que precedeu o feriado de Finados eu estava sem a mínima idéia de que livros poderia comprar para me divertir na longa folga. Mas uma coisa era certa: eu queria ler. Então, quase inconscientemente, passei pela livraria mais próxima e, ainda com a mochila nas costas (eu havia acabado de voltar da universidade), me pus a percorrer as estantes da loja.

Foi por puro acaso que encontrei Cidade de Ladrões. Ele estava ali sobre aquela prateleira abarrotada, fora do seu devido lugar, largado a esmo por algum cliente ou funcionário desleixado. É engraçado como estas coisas acontecem: peguei o livro, muito pouco interessado, abri-o na primeira página e, como sempre faço, comecei a lê-la.

A linguagem ágil, elegante e precisa de Benioff logo me chamou a atenção. Li o prólogo inteiro ali em pé mesmo, minhas costas protestando contra o peso da mochila. Animado, levei o livro para o segundo andar da livraria, sentei-me a uma cadeira extremamente confortável (gosto de lá por causa dessa cadeira) e comecei a devorar o exemplar que tinha nas mãos. Só mais tarde me dei conta de que já havia ido longe demais na leitura e que, assim, poderia levá-lo para casa sem hesitar.

Cidade de Ladrões prende a atenção do leitor logo no início. Depois que você acaba de ler o prólogo e o primeiro capítulo, fica quase impossível largar o livro. Atenção: apesar de se tratar de uma história sobre o cerco nazista na 2ª Guerra Mundial, não espere um melodrama choroso ou um retrato mórbido da sociedade russa naquela época. Cidade de Ladrões é, antes de tudo, uma aventura intensa, marcada por um humor um pouco pesado (em grandes doses, pornográfico) e por momentos de reflexão e graça literária. As palavras que eu usaria para qualificar o livro são: Inteligente, divertido, leve, emocionante e original.

A dupla de protagonistas (Kolya e Lev) é tão carismática que pertence àquele grupo de personagens que ficam na nossa mente por anos a fio, se não para sempre. Lev, pela sua ingenuidade, medo e paixão; Kolya, pelo seu humor extraordinário e pela altivez das ações, como se nada daquele mundo em guerra lhe pertencesse realmente.

É um livro que comove, sim, mas a dose forte de emoção foi adiada apenas para as últimas páginas, o que revelou-se ser uma decisão acertadíssima do autor. Sem mais palavras, eu compararia este romance com o romance histórico Sangue Asteca, de Gary Jennings. Por alguma razão acho que os dois se parecem. É exatamente o mesmo estilo de aventura, a mesma opção de história.

Benioff é capaz de brincar com uma trama que, através da aparente simplicidade e da carga de questionamentos, comovem o leitor naturalmente, sem que para isso haja a necessidade de passagens clichês.

Livro nota 10, enfim. Estou aguardando o próximo lançamento de Benioff, coisa que, infelizmente, pode demorar um pouco, visto que o autor trabalha mais para o cinema (escrevendo roteiros) do que para a literatura. (Traduzam logo o seu A 25ª Hora, por favor!)

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Abaixo, um trecho do texto.

"Em pouco tempo atingimos o limite da cidadezinha. Saímos da estrada e corremos através dos campos congelados das fazendas, passando por silhuetas de tratores abandonados. Lá em Krasnogvardeysk podíamos ouvir o barulho de motores de carro acelerando e pneus com corrente rodando sobre a neve. Na escura distância à nossa frente podíamos ver a margem escura da grande floresta esperando para nos receber, para nos ocultar dos olhos de nossos inimigos." (p. 260)

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