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23 abril 2010

Feios, de Scott Westerfeld

“Estava percebendo como eram as coisas na natureza. Perigosas ou lindas. Ou ambas as coisas.” (p. 150)

Feios Scott Westerfeld

Não faz nem meia hora sequer que terminei a leitura do romance Feios (Uglies, 2005), que é o primeiro livro da saga homônima escrita pelo autor norte-americano Scott Westerfeld.

A série, que é feita em quatro livros, já foi finalizada por Westerfeld, e presumo que a editora Galera (selo da Record, destinado a um público jovem) vá lançar os títulos em rápida sucessão, sem aquela espera habitual que o público vivencia quando está aguardando um escritor acabar de redigir mais um livro de uma série.

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Sinopse: Em uma sociedade futurística, todos os adolescentes esperam ansiosos o aniversário de 16 anos, pois então serão submetidos a uma inacreditável cirurgia plástica, que corrigirá todas as suas imperfeições físicas, transformando-os em perfeitos. Tally Youngblood está ansiosa no início, porém, quando conhece uma garota com idéias subversivas à ordem vigente, ela acaba se envolvendo em uma conspiração e descobrirá que, por trás de tanta perfeição, se esconde um terrível segredo.

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De um modo geral, Feios pertence àquela grande lista de livros que nos dão uma visão de como pode ser a nossa sociedade no futuro: hegemônica, acéptica, manipuladora e, sobretudo, estética.

Podemos citar outros livros desse mesmo naipe, que abordam esse mesmo tema (embora não focalizem suas preocupações somente em estética). São eles: Admirável Mundo Novo, de Huxley; 1984, de Ornwell; Farenheit 142, de Bradbury, entre outros títulos de ficção científica que mostram quão operacional pode se tornar a nossa civilização.

No início, Feios pode parecer meio bobinho. Pelo menos, foi o que eu achei. Fica uma impressão de que você está lendo um episódio de O Diário da Princesa, em que uma garota, a protagonista, está morrendo de vontade de completar logo 16 anos para tornar-se perfeita e divertir-se muito, enquanto sua amiga não compartilha da mesma visão. As primeiras páginas parecem ser essencialmente destinadas a um público quase infantil. Os diálogos se mostram pobres, já que o tema dá margem a tantas trechos interessantes. Além disso, as invenções de Westerfeld (anel de interface, prancha voadora, pontes que falam) parecem um pouco infantis também.

Ainda bem que isso mudou depois. Lá pela altura da página 80, a história começa a ganhar ares mais maduros, os diálogos começam a ficar mais interessantes e a trama começa a apresentar proporções inusitadas. Embora a trama toda ainda seja narrada à luz de assuntos adolescentes corriqueiros, a qualidade do livro fica indiscutivelmente melhor. E eu acabei gostando bastante do resultado final.

Uma questão proposta pelo autor na página 47 me chamou bastante a atenção e fez com que eu refletisse sobre alguns aspectos de sermos todos perfeitos. Com relação ao "mundo antigo" (ou seja, à nossa sociedade atual), diz uma das personagens: "As pessoas mais altas conseguiam empregos melhores, e o povo votava em certos políticos só porque eles não eram tão feios quanto a maioria."

Não podemos deixar de concordar em um ponto: se todos fôssemos fenotipicamente perfeitos, não haveria injustiças como essa, de segregar os melhores empregos para pessoas de melhor aparência. Essa é uma vantagem de nós sermos todos perfeitamente iguais. No entanto, logo a seguir uma outra personagem retruca: "Poderiam pensar numa forma de deixá-las mais espertas". Em vez de iguais. Concordo.

A dose de aventura no livro é grande. Isso me fez lembrar as histórias de Crichton (ver post anterior). A narrativa dinâmica é um ponto alto do livro.

Outro ponto (bastante) interessante é o cenário no qual se passa a história. É difícil descrevê-lo aqui, pois ele não se resume apenas a cidades ultra-modernas cheias de edifícios altos, como se pode supor. Quando os personagens saem da cidade, não vemos nada disso, e sim praias, montanhas, desertos, planícies e outros elementos atraentes da vida selvagem, elementos que normalmente não aparecem em obras futurísticas de ficção científica. Gostei desse ponto, acho que é um diferencial no romance.

Resumindo: embora Scott Westerfeld não se preocupe necessariamente com a mensagem implícita de seu livro e busque apenas entreter os leitores, Feios é um livro muito bom. Como entretenimento é ótimo, principalmente para os jovens, e o leitor pode por conta própria se deixar levar por algumas reflexões.

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A seguir, disponibilizo um vídeo que um fã da série fez, de acordo com o que ele acha que seria uma adaptação do livro para o cinema. Mesmo tendo sido feito por um amador, o vídeo é incrível, quase profissional mesmo.

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2 comentários:

  1. A premissa me pareceu interessante, mas me pareceu que sua resenha não é muito compatível com as 5 estrelas que você deu pro livro no Skoob...

    De qualquer maneira parece ser um livro bem legal, mesmo que aparentemente o foco do autor não seja necessariamente a discussão e reflexão sobre o tema de perfeição em si. Não sei o motivo, mas a sinopse me lembrou vagamente o filme "A Ilha", talvez por conta de uns pontos similares (promessas falsas).

    Agora sempre acreditei que esse conceito de perfeição/beleza/etc é algo extremamente relativo. Varia demais de cultura pra cultura, de indivíduo pra indivíduo... E não concordo muito com o seu ponto de vista de que se fossemos fenotipicamente perfeitos injustiças não existiriam. Acho leviano pensar assim, acredito que a aparência física tenha sim grande influência, mas a questão da inteligência e caráter são mais determinantes, não?

    Té mais!

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  2. Olá, Faru!

    Depois que você disse isso sobre a resenha estar incompatível com a nota dada no Skoob, pensei melhor a respeito do assunto e vi que, realmente, na minha opinião o livro não merece as 5 estrelas. (Inclusive, já corrigi lá.)

    Mesmo assim, penso que dei as 5 estrelas porque, embora o começo do livro não seja dos melhores, o desenvolvimento e as cenas finais divertem bastante. Imagino que isso influenciou minha nota; mas, analisando melhor agora, com calma, vejo que 4 estrelas estão de bom tamanho pelo conjunto da obra. Afinal de contas, o livro poderia ter sido muito melhor desenvolvido, tanto na questão da maturação das idéias (diálogos, psicologia dos personagens, etc.) quanto da narrativa.

    O que eu quis dizer com a questão da perfeição universal foi o seguinte: se todas as pessoas do mundo fossem fenotipicamente perfeitas (ou seja, iguais), a questão de ficar julgando os outros pela aparência sumiria, dando-se mais valor à inteligência e ao caráter das mesmas - como você disse.

    Abraços! :D
    Suas visitas aqui no Artigos são sempre muito bem-vindas. ^^

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