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12 fevereiro 2012

A infância do mago, de Hermann Hesse

"Por muito tempo vivi no paraíso, ainda que meus pais tenham me apresentado bem cedo à serpente."

 hermann-hesse[1]

Entrei na livraria e lá estava ele, meio abandonado, entre uma edição enorme de um livro de gastronomia e um atlas colorido do corpo humano. Estava na pilha de livros que em breve seriam despachados para as suas respectivas estantes, de onde, cedo ou tarde (ou nunca), os clientes da loja os tirariam e os levariam para casa. Havia outros romances em meio àquele monte de livros aleatórios empilhados – inclusive romances de outros autores consagrados – mas foi A infância do mago (1922) que me chamou mais atenção.

Quem escreveu este conto singelo foi o alemão Hermann Hesse, bem conhecido da comunidade literária mundial, que o considera como um dos melhores autores de todos os tempos. Hesse recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1946, poucos meses depois de ser agraciado com outra prestigiada condecoração, o Prêmio Goethe.

Eu nunca havia lido nada do autor e, por pura curiosidade – que não deixa também de ter algo místico, pois senti como que uma força direcionando minha mão para resgatar o livro daquela pilha – sentei-me numa das poltronas da livraria e comecei a lê-lo. Terminei a leitura meia hora depois, com a sensação premente de que preciso conhecer mais desse escritor tão talentoso.


Sinopse: 'A infância do mago' conta, em poucas páginas, os primeiros passos de um garoto que nasce e cresce em meio a uma região bucólica, cercada por bosques e animais, onde convive com seu pai – inteligente e correto –, sua mãe – que esconde uma ponta de mistério – e seu avô – figura que encanta ao máximo o menino. O livro é, acima de tudo, uma ode à infância despreocupada e ingênua.


hermann_hesse

Seguramente não é à toa que uma editora resolve publicar um único conto em formato de livro, com capa, introdução, posfácio e tudo o mais a que um grande romance tem direito. Em vez de pertencer a uma coletânea, a editora José Olympio decidiu que A infância do mago teria uma edição própria. É difícil encontrar um conto publicado isoladamente, por mais que o autor que o escreveu seja consagrado nos meios literários e tenha a graça da boa recepção do público. De qualquer forma, a edição do conto pertence a uma coleção intitulada Sabor Literário, cujas obras não ultrapassam as 200 páginas.

A verdade é que este conto de Hermann Hesse é apaixonante. O único ponto negativo é que ele não possui mais que 40 páginas, e quando o leitor está se familiarizando com o protagonista, com sua vida e o contexto que o rodeia, a história termina. A única coisa concreta que posso dizer é que a premissa de A infância do mago daria um ótimo romance, se fosse desenvolvida de acordo. Mas a idéia mesma do autor é apenas mostrar ao leitor um alento de vida, um flash da infância de um personagem aleatório (que tem muito do autor, diga-se de passagem) e o paradoxo de se tornar adulto aos poucos.

herman_hesse_logo

A essência do conto gira justamente em torno dessa idéia: a agonia de se tornar adulto, desprender-se das fantasias da infância, ser forçado a aceitar uma realidade com a qual não se concorda. O protagonista, no início da história, narra a sua vida despreocupada de menino que vive em uma cidadezinha rural afastada da metrópole, com seus celeiros, seus bosques, seus rios e seus animais. Uma das belezas do conto está na riqueza dos detalhes da vida infantil do menino, com suas suposições, seus sonhos, suas aspirações e suas vivências. Experiências que são compartilhadas, se não universalmente, pelo menos por boa parte da população mundial.

Aos poucos, o garoto vai crescendo e deixando de lado as experiências infantis, até que adquire a consciência de que está de fato entrando na realidade – ou, como ele mesmo gosta de dizer, no mundo dos adultos, que antes lhe parecia ridículo. Eu diria que a segunda beleza do conto está nesse processo de amadurecimento, que põe lado a lado o mundo das crianças (com sua despreocupação aberta) e o mundo dos adultos (com suas regras "ridículas" e aborrecidas). As reflexões que partem daí são excelentes e, embora rápidas, deixam o leitor pensando no assunto por um bom tempo.

Se os livros no Brasil não fossem absurdamente caros, eu teria levado o volume para casa na mesma hora. Mas, realmente, não deu. De qualquer maneira, fica a dica para quem quer gastar alguns minutos lendo um dos melhores contos que tive a oportunidade de ler esse ano.

2 comentários:

  1. Olá Renan,

    Gostei da tua postagem sobre o livro/conto do Hesse.

    Foi muito bom ter encontrado teu blog e parabéns pelos posts.

    Agora terei que ler os mais antigos... já comecei.

    Um abraço pra você e família.

    Otton

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  2. Olá, tio!

    Obrigado pela visita e pelo comentário! Fico bastante agradecido.

    Espero que goste do Blog! Mas, atenção: a qualidade das postagens vai decaindo na medida em que vão ficando mais antigas! hehe

    Grande abraço para todos.

    Marlo Renan.

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