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11 janeiro 2014

Inferno, de Dan Brown

"É esse o futuro que eu estaria dando ao meu filho?" (p. 136)

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Na semana passada, finalizei a leitura de Inferno (Inferno, 2013), o mais recente romance assinado por Dan Brown – esse escritor norte-americano que ganhou fama ao redor do globo após lançar o tão polêmico thriller O Código Da Vinci, em que se debate, dentre outras coisas, a relação entre Jesus Cristo e Maria Madalena. Brown já havia lançado Fortaleza Digital, Anjos e Demônios e Ponto de Impacto antes do Código, mas foi somente com a segunda aventura de Robert Langdon – e o barulho que ela causou, principalmente no Vaticano – que o autor conquistou uma imensa e internacional legião de fãs. Após o sucesso da sua obra-prima, Brown lançou O Símbolo Perdido (também com Langdon) e, agora, Inferno.

Inferno é, portanto, a quarta história em que Robert Langdon atua. Aqui, o famoso simbologista de Harvard não se verá às voltas com o passado pessoal de Cristo, nem com o grupo Illuminatti, nem com líderes maçônicos perigosos: agora, ele terá que lidar com os enigmas de um cientista brilhante e cruel que planeja reduzir drasticamente a população mundial. E é neste aspecto que reside a ousadia do mais novo thriller de Dan Brown: na mensagem de que a superpopulação global atingiu níveis tão críticos que a questão merece ser tratada com uma urgência que já deveria ter ficado clara há muito tempo.

Há um diálogo que ilustra bem o cerne da trama:

O homem sorriu, claramente satisfeito com aquela pergunta.

– Qualquer biólogo ou estatístico ambiental lhe dirá que a maior chance de sobrevivência a longo prazo para a humanidade acontece com uma população global de cerca de quatro bilhões de habitantes.

– Quatro bilhões? – repetiu Elizabeth. – Nós já estamos em sete bilhões, então é um pouco tarde para isso.

– Será?


Sinopse: No coração da Itália, Robert Langdon, o professor de Simbologia de Harvard, é arrastado para um mundo angustiante centrado numa das obras literárias mais duradouras e misteriosas da história: A Divina Comédia, de Dante Alighieri. Numa corrida contra o tempo, ele luta contra um adversário assustador e enfrenta um enigma engenhoso que o leva para uma clássica paisagem de arte, passagens secretas e ciência futurística. Tendo como pano de fundo o poema de Dante, ele mergulha numa caçada para encontrar respostas e decidir em quem confiar, antes que o mundo que conhecemos seja destruído.


Muito bem recebido pelo público, Inferno reproduz o padrão das histórias anteriormente protagonizadas por Robert Langdon: temos aqui mais uma vez organizações secretas que atuam nos bastidores da trama, uma bela e inteligente mulher que acompanhará o personagem principal em sua busca frenética por símbolos ocultos capazes de fornecer o passo seguinte, muitas obras de arte e muitas reviravoltas que deixam o leitor quase tonto. Mesmo repetindo pela quarta vez todo o esquema de enredo, Dan Brown mostra que ainda é capaz de nos surpreender – por incrível que pareça. Nesse aspecto, encaro Dan Brown como um mágico que está sempre tirando alguma coisa da cartola: sabemos qual é o truque e como ele funciona, mas o que de fato será retirado do chapéu, ninguém tem a menor ideia.

A Divina Comédia, de Dante Alighieri, foi escolhida como a obra artística que serve de base para os enigmas a serem desvendados na trama – mais especificamente, o primeiro canto da obra, intitulado Inferno. Em sua sede de fazer justiça à assim chamada premonição de Dante, o vilão da história monta um quebra-cabeça baseado na Divina Comédia, e alusões à Peste Negra são bastante recorrentes – a mesma peste que dizimou um terço da população da Europa no século XIV e que, como sugere o frio inimigo, poderia levar a resultados assustadores se fosse reproduzida nos dias de hoje. Especialista no poema épico do italiano, Langdon deve seguir uma série de pistas e mensagens ocultas deixadas pelo cientista, a fim de frustrar os seus planos malignos e evitar o que pode ser uma tragédia sem precedentes. 

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O Inferno de Dante, de Gustave Doré

Sabe-se que a obra de Dan Brown é escrita para entreter os leitores e diverti-los com uma mistura bem-vinda de perseguições policiais e referências a grandes obras de arte que são apresentadas para, no fundo, mostrar uma visão de mundo pessoal do autor. Inferno foi o segundo romance de Brown que me fez refletir demoradamente sobre as implicações de sua trama e projetá-las no mundo real em que vivemos. Sua mensagem sendo tão óbvia e tão pungente, essa reflexão de fato não poderia passar batida: afinal, o que estamos fazendo para controlar o crescimento da população mundial que, sim, já está passando dos limites do sustentável? Esta é a pergunta implícita do autor e, percebe-se, a principal mensagem do romance.

Visto por esse ângulo, Inferno ganha contornos de obra crítica que não foram alcançados com O Símbolo Perdido ou até mesmo com O Código Da Vinci – para alguns, este último é apenas resultado das constantes tentativas de Brown de alfinetar a Igreja Católica. Inferno, por sua vez, cutuca a todos nós com um problema de interesse geral: qual é o horizonte possível para a humanidade se continuarmos a nos reproduzir de modo desenfreado? Utilizando métodos drásticos para livrar a humanidade de uma situação já drástica, o vilão de Inferno coloca em jogo a dramaticidade da condição humana atual em termos de sustentabilidade – além de pôr em cheque a hipocrisia de instituições que, na sua visão, tapam o sol com uma peneira.

Dante - La Divina Comedia - Canto VI - Doré - Descontexto-2

Dante e Virgílio no Inferno, de Gustave Doré

Como sempre repleto de curiosidades sobre o mundo das artes – que aqui inclui a vasta referência à Divina Comédia, quadros de Vasari e a arquitetura italiana, dentre outros –, Inferno pinta um cenário sombrio assolado pela ideia de uma iminente pandemia capaz de devastar a população de regiões inteiras. Em um enredo onde não se vê mocinhos necessariamente mocinhos nem vilões necessariamente vilões, está em poder do leitor decidir de que lado ele ficará, qual lado defenderá – se é que de fato existe mais de um "lado" nessa história; afinal, todos estamos no mesmo barco.

Por fim, há algo a declarar: ainda que Robert Langdon seja um personagem com vasto potencial e grande carisma, é hora de Dan Brown pensar em outro protagonista para seu próximo romance. Fazer Langdon protagonizar mais um thriller logo após Inferno seria tornar o famoso simbologista um personagem irreal, transformando-o apenas em uma espécie de ideia de protagonista, sem deixá-lo convincente. Langdon ficaria bem melhor aparecendo daqui a dois ou três romances, o que evitaria sua saturação.

Em resumo, posso afirmar que Inferno atende às expectativas dos leitores de longa data do autor. Quanto aos leitores de primeira viagem, estes certamente serão impressionados. O mesmo corre-corre e o mesmo apelo ao mistérios dos símbolos nas obras de arte, que são elementos que consagraram Dan Brown, estão aqui presentes – e eles não falham em deixar a história envolvente e emocionante. Se o criador de Robert Langdon seria capaz de escrever algo que fugisse do seu próprio modelo, isso é tema para outra conversa. Por enquanto, ele conseguiu manter fiel sua legião de fãs.

Resta-nos esperar para ver o que ele tirará da cartola da próxima vez.

3 comentários:

  1. Caro Marlo,

    Você inicias seus comentários em 2014 com um autor polêmico e ao mesmo tempo envolvente. O primeira característica se refere, como você enfatiza, as críticas a certas organizações, e a segunda a capacidade Brown em criar um enredo que prende a atenção dos leitores que seguem a trilha do texto até chegar no "fim do labirinto".

    Este livro que você comenta, Inferno, traz um tema polêmico e preocupante, e acredito que o futuro da humanidade depende também do que estamos fazendo para construir um sociedade que tenha um futuro promissor.

    abraços,

    Gustavo

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  2. Olá Marlon,

    Das histórias de Langdon, eu achei essa a melhor (p.s. eu ainda não li O Codigo da Vinci).

    Anjos e Demonios tem bem mais ação é verdade, mas acho que o tema que Dan Brown escolheu foi o melhor de todos, e juntamente com o lugar escolho que foi a cidade de Florença, a história em torno da obra de Dante...e o final surpreendente foram elementos significativos.

    Fiquei bastante tempo refletindo depois da leitura do livro, o vilão realmente era o vilão? Ele foi um egoísta com sua ideia? O risco da biotecnologia, ela vai ajudar ou prejudicar a humanidade?

    Enfim, é livro muito bom!

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  3. Olá, Igor e Gustavo! Obrigado pela visita e pelos comentários.

    Igor, leia 'O Código da Vinci', é muito bom!
    'Inferno' de fato é um livro que leva o leitor a refletir sobre um assunto tão polêmico. O final é para lá de surpreendente, acho que ninguém nunca imaginaria aquilo.

    Até mais! Abraços!

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