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10 janeiro 2010

Noite, de Erico Verissimo

Tudo isto pode ser apenas um sonho e ninguém nunca nos pede contas de que fazemos em sonhos.” (p. 107)

Noite Erico Verissimo

Hoje pela manhã, eu finalizei a leitura da novela brasileira Noite (1954), escrita pelo gaúcho Erico Verissimo e recentemente editada pela Cia. Das Letras, em uma derradeira homenagem ao centenário de nascimento do escritor.

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Sinopse: Na cidade grande, um homem a quem o autor chama de Desconhecido vagueia ao acaso envolto pela multidão apressada. Anoitece e a hora é de um calor sufocante. Ele não sabe quem é, onde vive, o que lhe sucedeu. Pode apenas sentir, e seu corpo lhe diz que está amedrontado. Em sua mente há uma tênue figura de mulher e o reflexo insistente de um fato terrível, mas nada mais consegue lembrar.

Um dúbio sentimento de culpa o atormenta, impelindo-o à fuga, sem que possa refrear-se. De súbito está na zona do cais, num café de baixa categoria, e duas criaturas equivocadas o abordam. Parecem adivinhar nele um irmão, insinuam mesmo que é o assassino procurado pela morte de uma mulher naquela tarde. Um estranho fascínio o domina e o Desconhecido se deixa arrastar noite a fora, aos lugares mais sórdidos, sem reagir.

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Noite é um tratado psicológico de grande naipe. A densidade do embaraço do protagonista, ao longo da trama, é digna de um estudo mais detalhado. No entanto, como eu havia acabado de sair de um Dan Brown (O Símbolo Perdido), não estava totalmente preparado para analisar psicologicamente um personagem, esmiuçando detalhes de sua personalidade.

E deve ter sido por esse motivo que a leitura, nas suas primeiras páginas, me pareceu desinteressante. Minha cabeça não estava voltada para as metáforas, para as analogias e alegorias. Os acontecimentos estavam sendo narrados de uma forma pouquíssimo convincente, beiravam o ilógico, eram de fato incongruentes, como se Erico estivesse escrevendo a primeira coisa que lhe viesse à mente. Nenhum fato da narrativa estava sendo explicado, e isso confunde o leitor, sendo preciso (no meu caso) uma gotinha de força de vontade para segurar o livro nas mãos.

Li as 50 primeiras páginas sem vontade. Isso é muito, se formos levar em conta que o livro possui 126 páginas. Porém, com o advento de novos fatos e novas revelações da trama, processou-se uma guinada muito boa e li as 76 folhas restantes num fôlego só. Algumas coisas começaram a ser explicadas, elucidadas, os diálogos foram ficando mais interessantes, tangíveis, e (mais importante) tudo foi sendo explicado aos poucos.

Posto na balança, Noite merece ser lido, sim, sem sombra de dúvida. Principalmente para quem é fã do autor.

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A propósito…

Noite provavelmente foi o último livro que li do escritor Erico Verissimo. Não porque me decepcionei com a leitura dessa novela, mas porque realmente o que me restou para ler de sua obra de fato não me interessa muito, incluindo os livros infantis e as biografias. Acho que já li o melhor que Erico tem a oferecer (desde o inicial Ciclo de Romances, que é simplesmente magnífico, até o ácido Incidente em Antares).

E é com grande saudade que me despeço desses livros (e desse autor), que regraram tão bem a minha adolescência.

Infelizmente, não me anima muito a perspectiva de ler o glorioso O Tempo e o Vento; o tipo de romance histórico lá retratado não me atrai, e, pelas rápidas folheadas que dei nos volumes, isso só se tornou mais claro. Sei que essa minha aversão à trilogia dói nos olhos dos outros fãs do gaúcho. Mas não tenho culpa… Eu até queria que O Tempo e o Vento me atraísse, porque aí eu teria um prato cheio de leitura, principalmente agora que a Cia. Das Letras lançou todos os volumes em um belo box…

Mas, pelo menos por enquanto, não tenho planos para lê-los.

Um comentário:

  1. Fiquei um tempo sem entrar no seu blog e não tinha visto o comentário sobre Noite,( que vai ser minha próxima leitura ) nem sobre O Tempo e o Vento. Só posso dizer que você sairá perdendo, e ao contrário do que afirma, você não leu tudo de melhor que Erico tem a oferecer. Aversão é uma palavra forte, não ? Aversão à obra prima de Erico Verissimo, sem a ter lido... nem merece comentários.

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