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17 outubro 2009

A Dama das Camélias, de Alexandre Dumas (filho)

"A história de Marguerite é uma exceção, repito, mas se fosse uma generalidade, não teria valido a pena escrevê-la." (p. 203)

A Dama das Camélias A. Dumas Filho

Hoje pela tarde eu finalizei a leitura do romance A Dama das Camélias (La Dame Aux Camélias, 1848), escrito pelo francês Alexandre Dumas (filho), cuja ascendência, como podemos ver, já está evidente no próprio nome do rapaz.

O que esperar de um escritor que é filho do autor de O Conde de Monte Cristo e de Os Três Mosqueteiros? Essa foi uma das razões que me fizeram levar A Dama das Camélias da livraria.

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Sinopse: O romance, escrito em 1848, teve pouca repercussão em seu lançamento. (...) A obra é um documento social, mas sobretudo um hino ao Amor, escrita em linguagem forte, com admiráveis diálogos; narra a comovente história da cortesã Marguerite Gautier e Armand Duval, jovem estudante de Direito em Paris.

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Acima de tudo, A Dama das Camélias é um ótimo livro. Gostei bastante. Tem o caráter e a forma de uma obra de Machado de Assis - intrigas amorosas em primeiro plano - e, como todo romance europeu da primeira metade do século XIX, tem também passagens de declaração de amor efusivas e exasperadas, quase irreais. Isso sem contar com as cordialidades entre as personagens masculinas e femininas, que são coisas dignas de nota e que, hoje, julgamos risíveis.

Bem, o livro é narrado em primeira pessoa, só que por várias pessoas diferentes: começa com um personagem sem nome, que se encarrega das primeiras páginas e articula a história; passa então pelo relato longuíssimo de Armand Duval - que é, na verdade, o miolo do romance - e acaba com a narração da própria Marguerite, nas últimas páginas, através de uma extensa carta. Não vou, claro, me alongar nesses detalhes porque aí acabaria com a graça do enredo, e acabar com a graça de qualquer coisa é uma das atitudes que mais detesto.

Confesso que o livro demora um pouco a engatilhar. As primeiras dez ou vinte páginas são interessantes, mas é aí que começa o relato de Armand Duval e, então, os acontecimentos seguem um ritmo de madorna. No entanto, logo depois da metade - estamos falando de um livro de 205 páginas, note-se bem - a trama dá uma reviravolta que impressiona e que faz com que o leitor não largue o livro até que o fim seja alcançado.

O que mais me chamou a atenção em A Dama das Camélias é que, apesar da vontade que se tem, não podemos julgar nenhuma das personagens pelas atitudes que tomaram ao longo da história. Por quê? Porque todas elas seguiram o contexto social no qual se encontravam, e fugir desse contexto para tomar outras decisões soaria algo falso, tanto no caso de Marguerite como no caso de Duval e mesmo de Prudence. Portanto, no romance não há aquele que procedeu mal, aquele que procedeu certo, aquele coitado que sofreu pelas decisões do outro e aquele que tudo manipulou; não. Todos eles agiram de acordo com as suas inclinações, e isso afetou as pessoas circundantes de modo especial em cada caso. Desse modo, não há julgamento moral possível para ninguém ali.

Indico o livro para quem quiser uma boa leitura de final de semana e peço desculpas pela resenha simples.

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Eu poderia deixar como trecho especial a seguinte passagem:

"Não se trata simplesmente de colocar duas colunas na entrada da vida, uma delas sustentando esta inscrição: Caminho do Bem, e a outra este aviso: Caminho do Mal, e de dizer aos que se apresentam: 'Escolham'. É preciso (...) mostrar os caminhos que conduzem da segunda via à primeira para aqueles que se deixarem tentar pelos desvios e, principalmente, é preciso que o início desses caminhos não seja demasiado doloroso, nem pareça demasiado impenetrável."

(DUMAS, Alexandre; A Dama das Camélias, p. 28, editora Martin Claret)

Um comentário:

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